Gentileza Urbana

Levantei as sete, o que é tarde para os meus padrões. Enquanto passava o café fui até à sacada espiar a cara do dia como de costume. O Mundo estava em silêncio, algo impensável numa quinta-feira qualquer, mas não nessa. Essa quinta é de ressaca, segundo dia de um feriadão que se estenderá por ainda mais três. Fecho os olhos. Gosto desse silêncio. Desse Sol ameno, dessa aragem fresca.

De longe chega uma música suave. Me encanta que seja o de uma flauta e não o do batidão de um carro passando, o que é de praxe. Um vizinho aplicado estudando logo cedo, de certo. Na vizinhança alguém toca Saxofone e, de quando em quando, me faz a gentileza de estudar ao entardecer. Ou à noite. Eu fico extasiada, pois acho que o Sax combina com a noite. Piano também. O som fica mais intenso. Fico à espreita.

Da servidão ao lado surge uma jovem tocando sua flauta transversa. Magra, loira, cabelos com dreadlocks amarrados num coque, mochila às costas. Não conheço a música. Só sei que é linda. Espero que dobre a esquina e fique de frente para minha varanda. Bato palmas. Ela não ouve. Ainda assim continuo a aplaudir. Um BRAVOOO!, ecoa em meu peito e só não grito pra não ter problema na próxima reunião do Condomínio.

Entre um acorde e outro ela ouve as palmas e procura ao redor. Me vê. Continuo aplaudindo com os braços levantados e faço um sinal de aprovação. Ela sorri e corresponde enquanto some encoberta pela parede do prédio. Grata e encantada sigo a ouvir o som da tua flauta mágica, minha bela e generosa Hamelin!

Desdigo o que disse. Não acordei tarde. Acordei na hora exata.

Por um tempo de delicadeza!

Flauta Transversa

*Imagem capturada na Internet. Desconheço a autoria