Sempre que chove
Tudo faz tanto tempo…
E qualquer poema que caso eu escreva
Vem sempre datado de 1779!
Mário Quintana
Sempre que chove
Tudo faz tanto tempo…
E qualquer poema que caso eu escreva
Vem sempre datado de 1779!
Mário Quintana
Faz tanto tempo que se está esperando – o trem que não vem, o trem de Belém, – que as bagagens alheias, amontoadas no banco, cheiram-me a poeira de séculos: devem estar aqui, embolorando, o caduceu de Mercúrio, a cabeleira de Absalão, uma peça íntima de Cleópatra, um báculo de bispo, uma tabaqueira de Luís XV, um olho de vidro, uma fivela, uma bolsa de água quente, um lenço com um nó, um…Pestanejo. Sinto-me tão infeliz… Para que me fui meter nesse triste inventário, meu Deus? E, a cada suspiro que dou, o meu anjo da guarda perde mais uma peninha da asa.
Foto: Joaquim Araújo. Texto do Quintana (E quem havéra de ser?)
Na porta
A varredeira varre o cisco
Varre o cisco
Varre o cisco
Na pia
A menininha escova os dentes
Escova os dentes
Escova os dentes
No arroio
A lavadeira bate a roupa
Bate a roupa
Bate a roupa
Até que enfim
Se desenrola
Toda corda
E o mundo gira imóvel como um pião!
(Mário Quintana)