Tudo o que se refere à cidade (inclusive a cidade como ideia, como conceito) me interessa, por isso leio o que me chega às mãos: prosa, poesia, textos acadêmicos. Mas, de tudo o que li, nenhum texto supera As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino, lançado em 1972.
Pela narrativa do mercador veneziano Marco Polo, o Imperador dos Tártaros, Kublai Khan, vai descobrindo (e com ele a gente também), os mistérios indecifráveis de inúmeras cidades fantásticas, ambíguas e encantadas que compõem os seus vastos domínios.
Conheci o livro em 2004, mas de quando em quando volto a ele, pelo puro prazer da leitura. Foi o que fiz, na semana que passou. Maravilhada, decidi dar início à publicação semanal dessas narrativas (ver últimas postagens). Pois ontem, para minha alegria, ao abrir as páginas do Diário Catarinense, me deparei com o artigo de Marisa Naspolini sobre o tema. Segue a transcrição:
“No livro As Cidades Invisíveis, o escritor Ítalo Calvino descreve minuciosamente 55 cidades visitadas por Marco Polo, o ‘maior viajante de todos os tempos’, através de curtas narrativas agrupadas em temas como ‘as cidades e a memória’ e ‘as cidades e o céu’.
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As descrições são ricas, detalhadas, fantásticas. (…) os relatos são minuciosos, os sentidos são aflorados e a imaginação do leitor é aguçada nesta longa viagem por cidades que levam nomes de mulheres: Pentesileia, Leônia, Isidora… O percurso parece infinito, as aventuras fascinantes.
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Este mergulho na percepção de universos esquecidos, invisíveis aos olhos dos comuns dos mortais, inspirou o Teatro Potlach, companhia italiana sediada em Fara Sabina, a criar um projeto artístico interdisciplinar sobre temática relacionada à cidade. O projeto, criado nos anos 1990, se chama Cidades Invisíveis. Através de pesquisa histórica e cultural, o grupo busca fazer emergir uma cidade que jamais foi vista, ainda que esteja presente nas recordações de seus habitantes, despertando assim, talvez, uma forte sensação de pertencimento em seus moradores. Através de estruturas cenográficas, performances cênicas e musicais, instalações multimídia e recriação de ambientes arquitetônicos, o grupo, em colaboração com artistas das mais distintas áreas, cria percursos que dão vida e provocam transformações na cidade, que se torna o próprio palco do acontecimento.
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Pus-me a imaginar que cidade invisível emergiria desta ilha formosa que anda tão maltratada… Que imagens povoariam nosso imaginário? Que memória carregamos, individual e coletivamente? Que cantos escuros, que vozes esquecidas gostaríamos de trazer de volta à luz?”
Boa pergunta!
* Caderno Variedades do Diário Catarinense, edição de 14/01/2012.
marisanaspolini@floripa.com.br