Segui rumo ao Festival de Ostras. O local do evento é o Alto Ribeirão, localidade onde já lecionei quando tinha vinte anos. Sim, faz muito tempo. – Fica longe daqui, lá na “boca” do Reberão, um senhor me disse. Eu sabia onde ficava, só não lembrava o quanto era longe.
Perguntei sobre um táxi, mas fui informada de que o bairro tem só um “carro de praça” e que devia estar rodando. Resolvi sair andando à procura de um ponto de ônibus, pois apesar das nuvens, o mormaço estava pegando forte.
“Fui indo”, “fui indo”, distraída com a beleza das casinhas, da vegetação, e da quietude do mar. Nada do ônibus. Quando me dei tinha caminhado bem uns dois quilômetros ou mais. Finalmente o ônibus chegou. O cobrador disse: – É lá ó!
“Lá” é uma boa definição. Olhando da boca da rua o “circo” da festa ficava quase na linha do horizonte. Mas, como sou uma mulher valente (pelo menos para algumas coisas), segui, com meus passinhos miúdos. O bom é que cheguei zerada e pude me atracar com as ostras sem peso na consciência!
O salão estava quase vazio e os boxes sem filas. Peguei minhas ostras, meu chope, sentei-me calmamente e regalei-me! Deus estava inspirado quando inventou algumas coisas! Ostras, por exemplo. Comi, ouvi música da boa, descansei bastante. Enquanto isso as pessoas foram lotando o espaço. Pelo que vi, o Festival está sendo um sucesso!
Era hora de retornar para casa, mas antes eu tinha que terminar meu serviço. Ativismo literário em ação! Como quem não quer nada, como se diz, tirei um livro da sacola e o “perdi” sobre a cadeira. Câmera preparada, me dirigi ao lado oposto do salão para observar o que aconteceria. Imediatamente três adultos e uma criança acercaram-se da mesa. Enquanto o casal saía em direção aos boxes, a outra moça preparava-se para sentar quando avistou o livro. Imediatamente o pegou; nem olhou para os lados. Minha alegria foi grande, pois ela não disfarçava o contentamento ao ler a etiqueta. Passou a folhear o livro, interessada. Ela ria e eu também. Quando o casal retornou ela mostrou o que encontrara, fez um comentário, mostrou a página com a etiqueta e, glória suprema!, passou a ler um trecho. Todos riram! Foi de arrepiar. Melhor que ser indicada pra Academia Brasileira de Letras!
Empolgada, repeti a operação. Uma senhora ocupou a mesa, mas ao deparar-se com o livro, imediatamente o colocou sobre a mesa ao lado. Deve ter acreditado que alguém o esquecera de verdade ou, quem sabe, não aprecia a literatura. Paciência! Não pude ver o desfecho; precisava encarar a segunda etapa da maratona.
Resumo do dia: sete horas depois, com os pés ardendo de tanto caminhar e de enfrentar três ônibus para ir e três para voltar, cheguei em casa cansada. Mas muito, muito feliz!