Escombros da residência do ex-governador Hercílio Luz, localizada na rua Raul Machado, proximidades da Avenida Mauro Ramos, região conhecida como “Banco Redondo”. Fonte: Diário Catarinense ed. 13/08/2009. Acervo de recortes do sr. Aulo Gomes Jardim.
“Nosso velho cenário urbano, de tantas histórias e lendas, está indo para o chão. (…) Quem amará, no futuro, uma cidade que vai demolindo aos poucos todas as referências de poesia, encanto e fraternidade?” (Carlos Damião)
O jornalista Carlos Damião, protesta pela derrubada da centenária mangueira existente na Avenida Trompowsky, propondo uma reflexão que, sem sua licença, adapto e aplico aqui ao nosso tão maltratado patrimônio histórico.
Aos poucos, de árvore em árvore tombada, de casa em casa demolida, a cidade se despersonaliza e vai ficando “moderna”, “cosmopolita” como querem alguns. Na verdade, Florianópolis vai ficando uniforme, sem surpresas, parecida com outras cidades do mundo. Ítalo Calvino falou disso no seu inspirado livro As Cidades Invisíveis:
“- Viajando percebe-se que as diferenças desaparecem: uma cidade vai se tornando parecida com todas as cidades, os lugares alternam formas ordens distâncias, uma poeira informe invade os continentes”. (9 – 125)
” Se ao aterrissar em Trude eu não tivesse lido o nome da cidade escrito num grande letreiro, pensaria ter chegado ao mesmo aeroporto de onde havia partido. Os subúrbios que me fizeram atravessar não eram diferentes dos da cidade anterior. (…) Era a primeira vez que vinha à Trude, mas já conhecia o hotel em que por acaso me hospedei; já tinha ouvido e dito os meus diálogos com os compradores e vendedores de sucata; terminara outros dias iguais àquele (…). Por que vir a Trude, perguntava-me. E sentia vontade de partir.
– Pode partir quando quiser – disseram-me -, mas você chegará a uma outra Trude, igual ponto por ponto; o mundo é coberto por uma única Trude que não tem começo nem fim, só muda o nome do aeroporto”. (As Cidades Contínuas 2 pg. 118)